quinta-feira, 26 de agosto de 2010

TESTAMENTO.

        O que não tenho e desejo
        É que melhor me enriquece.
        Tive uns dinheiros — perdi-os...
        Tive amores — esqueci-os.
        Mas no maior desespero
        Rezei: ganhei essa prece.

        Vi terras da minha terra.
        Por outras terras andei.
        Mas o que ficou marcado
        No meu olhar fatigado,
        Foram terras que inventei.

        Gosto muito de crianças:
        Não tive um filho de meu.
        Um filho!... Não foi de jeito...
        Mas trago dentro do peito
        Meu filho que não nasceu.

        Criou-me, desde eu menino
        Para arquiteto meu pai.
        Foi-se-me um dia a saúde...
        Fiz-me arquiteto? Não pude!
        Sou poeta menor, perdoai!

        Não faço versos de guerra.
        Não faço porque não sei.
        Mas num torpedo-suicida
        Darei de bom grado a vida
        Na luta em que não lutei!

        - Manuel Bandeira -
        (29 de janeiro de 1943)

5 comentários:

  1. Oi, Silvana

    É muito bom, é delicioso vir aqui e ler Manuel Bandeira.
    Lindo!

    Bjs no coração!

    Nilce

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  2. Escolheu um lindo poema. Bonito e cheio de uma mensagem que entra cá dentro do peito.
    Tenho filhos que são meus e outros que não nasceram mas a todos sempre amei.
    E no amor com que nos damos que somos retribuídos

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  3. Simplesmente maravilhoso...

    PAZ & BEM

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