sábado, 30 de abril de 2011

A LISTA.



Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais.
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar,
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Era o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer.
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava,
Hoje acredita que amam você.

- Oswaldo Montenegro - 

terça-feira, 19 de abril de 2011

SOMOS TODOS IRMÃOS.


"Somos filhos da terra cor de urucum.
Dos sons do igarapé e da força do jatobá.
Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu.
Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci.
E da chuva que semeia o guaraná, a pitanga e o aipim.
Somos filhos dos mitos.
Do uirapuru e seu canto, do vento e do pranto.
Guerreiros, fortes, sábios.
Somos Ianomânis, Guaranis, Xavantes, Caiabis.
E o que somos nunca deixaremos de ser".

( Zeli Poa )

quarta-feira, 6 de abril de 2011

RAZÕES DA PARTIDA.

Se digo adeus a esta terra 
não é por falta de apego. 
Levo comigo esta casa 
e as extensões de sossego. 

Terra boa para enxada 
algum cuidado requer. 
É fértil com as sementes 
é uma terra-mulher. 

Se digo adeus a esta terra 
a corda desfaz a trança. 
Não há lugar para um homem 
se não se colhe a esperança. 

É uma terra de bom clima 
onde o verde é vasto e terno. 
Venha a gema do verão 
se espalhe a clara do inverno. 

Se digo adeus a esta terra 
que a mão de Deus me conduza. 
Não sou eu quem se despede 
é a terra que me recusa. 

Se tenho aguada nos olhos 
de sonhos guardo um rebanho. 
Não perde quem nada tem 
e o que vier vem de ganho. 

Se digo adeus a esta terra 
sem rancor, digo em resumo: 
a terra mudou de donos 
quando o vento mudou de rumos.

- Luiz Coronel - 


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Nascido em Bagé em 1938. Bacharel em Direito, Sociologia e Política, reside em Porto Alegre, onde trabalha como diretor de publicidade. Criou e dirige a Exitus, empresa de publicidade. É compositor musical, possuindo diversos prêmios como letrista nas Califórnias da canção nativa. Poeta, sua obra é voltada preferencialmente para a temática da terra, no que retoma a tradição do cancioneiro sul-rio-grandense. Dentre suas obras literárias, destacam-se: Mundaréu, Retirantes do sul, Cavalos do tempo, Baile de máscaras, Pirâmide noturna, Clássicos do Regionalismo Gaúcho. sua obra recebeu diversos prêmios, entre os quais: Prêmio Influência Poesia Espanhola, Universidade de Pamplona, Espanha, em 1990, e Premio Octavio Paz, da Revista Plural, Universidade do México, pelo livro Pirâmide Noturna.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A NAMORADA

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela. 
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia. 
No tempo do onça era assim.

- Manoel de Barros - 


Texto extraído do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo", Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 17.

domingo, 3 de abril de 2011

SOU NEGRO

(A Dione Silva)

Sou Negro 
meus avós foram queimados 
pelo sol da África 
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs

Contaram-me que meus avós 
vieram de Loanda 
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo 
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi 
Era valente como quê 
Na capoeira ou na faca 
escreveu não leu 
o pau comeu 
Não foi um pai João 
humilde e manso

Mesmo vovó não foi de brincadeira 
Na guerra dos Malês 
ela se destacou

Na minh'alma ficou 
o samba 
o batuque 
o bamboleio 
e o desejo de libertação...

- Solano Trindade-