sexta-feira, 7 de maio de 2010

MATÉRIA DE POESIA.

A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: O gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o
poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego
a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com seus deslimites.

- Manoel de Barros -

21 comentários:

  1. Silvana amei... amei a possibilidade dos "deslimites", porque acredito que as palavras são passaportes de viagens, viagens inesquecíveis...

    amei, me identifiquei demais! bjs

    ResponderExcluir
  2. Que lindo... tão bom a leveza e a liberdade que as palavras nos dão...
    Bom final de semana amiga...
    Beijos...

    ResponderExcluir
  3. As palavras e seus deslimites.
    Nada seríamos não fossem elas.
    Escrevemos, rimos, choramos, balbuciamos ou mesmo silenciamos nas palavras que escrevemos.

    A palavra se faz combústivel de nossa caminhada.
    Por esta estrada chamada vida.

    Beijos parabéns!

    ResponderExcluir
  4. A moça quis provar a fruta gostosa.
    Saboreou e gostou e passado um tempo deu no que deu...Coisas da vida...
    Antigamente era um crime e uma grande vergonha.
    Hoje tudo vemos e aceitamos.
    Quem critica em voz baixa tem telhados de vidro e sempre teme que a situação se repita com as próprias filhas.
    Eu já vi muita coisa que já nada me espanta...

    ResponderExcluir
  5. Minha querida
    Fazes sempre boas escolhas, Manoel de Barros, adoro.

    Deixo beijinhos com carinho

    Sonhadora

    ResponderExcluir
  6. Ternura de texto. Adorei

    Beijinhos

    Bom fim-de-semana

    ResponderExcluir
  7. Amado, amado, amado o Maoel de Barros! Quando me sinto presa, andando em círculo em torno da mesma palavra, do mesmo pensamento, da mesma lógica, grito de cá: Ô, Manoel!!! E ele chega mudando a ordem natural das coisas e fazendo, então, as coisas ficando de fato naturais. E belas.

    Abraços

    ResponderExcluir
  8. este livro, como quase todo maneca, é maravilhos!

    ResponderExcluir
  9. Silvana, sou a Angela, a da cozinha, contadora de casos e experimentadora de comidinhas saudáveis. Voltei do sítio na última terça e agora posso visitar seu blog com a calma e o cuidado que merecem. Você posta muita coisa bonita aqui - e lá no outro também. Vivo na roça, minha caseira é mateira e conta as histórias do povo do lugar, que muito me encantam. Incrível esta sua diversidade bonita de interesses: literatura e cultura popular. Sensibilidade e gosto por gente. Viva! Vou continuar explorando e, ao mesmo tempo, vou virando seguidora. Beijos carinhosos

    ResponderExcluir
  10. silvana amiga pegue mesu selinhos na sala de oferecidos,beijos e tenha uma otima semana.

    ResponderExcluir
  11. Silvana,

    Mais do que as culturas que em si se cruzam, a sua sensibilidade natural foi mais alto e 'pescou' este belo poema - de Manoel de Barros -, que é um espanto
    de envolvimento com a Natureza!

    Amei este seu post 'deslimitadamente' (...)

    Obrigado e abraços.

    César Ramos

    ResponderExcluir
  12. Amoooooooooooooooo o Manoel de Barros! Nunca canso de lê-lo. E reli, novamente e novamente e novamente...

    Beijos,
    Tânia

    ResponderExcluir
  13. Olá Silvana...

    Estamos apresentando uma Mostra Especial de Poeminis – “Encontros e Desencontros” a partir de imagens dos trabalhos da artista plástica Betty Martins.
    Convidamos você, especialmente, para que conheça nossa obra no blog: http://poeminiseimagens.blogspot.com
    Sua presença será uma honra para nós!

    Beatriz Prestes e Renato Baptista

    ResponderExcluir
  14. Eita Manoel de Barros, de águas, de flores, de passarinhos e de goiabas...

    abraços

    ResponderExcluir
  15. ainda bem que as palavras são livres assim!
    boa semana!

    ResponderExcluir
  16. As palavras nos dão liberdade e leveza!
    Lindo texto!
    Bjks

    ResponderExcluir
  17. Olá!!!
    To chegando para informar que o Mix agora é .com!!!
    Todo o conteúdo do Mix para você, com mais comodidade e profissionalismo!!!

    Mude seu link ok?
    www.mixculturainformacaoearte.com

    ResponderExcluir
  18. Restou-nos a palavra... Dela faço e refaço meu mundo!
    Obrigada pela visita carinhosa e volte quando quiser.
    Seu blog é variado e lindo! Dei uma olhada nos dois. Voltarei também!
    Beijos

    ResponderExcluir
  19. E viva a liberdade das palavras sem limites! beijos.

    ResponderExcluir
  20. Manoel de Barros é sempre lindo.
    A sua forma suave e sutil de se envolver com as palavras encanta a todos.
    Obrigado,

    ResponderExcluir