"Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.
Domingo de manhã também é a rosa da semana.
Não é propriamente rosa que eu quero dizer".
- Clarice Lispector -
(Texto extraído do livro "Para não Esquecer", Editora Siciliano - São Paulo, 1992).
Clarice Lispector e o máximo, bela escolha
ResponderExcluirbjs
Amo Clarice Lispector!
ResponderExcluirQue todos os dias possam ser a rosa da semana.
Um abraço
Léia
Lindo demais esse texto.
ResponderExcluirE eu concordo com Calrice.
Bjos achocolatados
Bonito texto.
ResponderExcluirPor aqui costumam dizer:
O dia da barrela. Quando está sol abre-se toda a casa e deixa-se entrar o vento e o sol e tudo fica como novo ao final o dia.
A franqueza das rosas de Sábado são a fraqueza das manhãs perfumadas de Domingo.
ResponderExcluirJorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 04/11/2010
Clarice, sou eterna fã.
ResponderExcluirclarice é maravilhosa nas crônicas também, né?
ResponderExcluirtem concurso de poemas rolando lá no um-sentir. confere e participa! =D
beijos!