"Eis o poder: seus palácios
hospedam reis e vassalos,
messalinas, pajens glabros,
eunucos, aias, lacaios,
e até artistas e ratos.
hospedam reis e vassalos,
messalinas, pajens glabros,
eunucos, aias, lacaios,
e até artistas e ratos.
Uma só migalha basta
à sordícia que se alastra,
e pronto surge uma talha
onde o cenário é lavado
para o próximo espetáculo.
à sordícia que se alastra,
e pronto surge uma talha
onde o cenário é lavado
para o próximo espetáculo.
O poder é assim: devasta,
corrompe, avilta, enxovalha,
do reles pároco ao papa,
e não há um só que escape
ao seu melífluo contágio.
corrompe, avilta, enxovalha,
do reles pároco ao papa,
e não há um só que escape
ao seu melífluo contágio.
Se alguém o nega ou o afasta,
compram-no logo, à socapa,
a peso de ouro ou de prata.
E se acaso não o fazem,
mais simples ainda: matam-no.
compram-no logo, à socapa,
a peso de ouro ou de prata.
E se acaso não o fazem,
mais simples ainda: matam-no.
Tem o poder muitas faces :
a que se crispa, indignada,
a que te olha de soslaio,
a que purga e chega às lágrimas,
a que se oculta, enigmática.
a que se crispa, indignada,
a que te olha de soslaio,
a que purga e chega às lágrimas,
a que se oculta, enigmática.
Mas são apenas disfarce,
formas várias que se esgarçam,
por entre véus e grinaldas,
porque assim vertem mais fácil
o vitríolo em tua taça.
formas várias que se esgarçam,
por entre véus e grinaldas,
porque assim vertem mais fácil
o vitríolo em tua taça.
E tu, rei de Tule, aos lábios
leva sempre, ávido, o cálice,
não por amor nem saudade
de quem se foi, entre as vagas,
de um castelo à orla do mar,
mas só porque, embriagado,
são de engodo as tuas asas
e de cobiça os teus passos,
que vão aquém das sandálias
e se arrastam rumo ao nada.
leva sempre, ávido, o cálice,
não por amor nem saudade
de quem se foi, entre as vagas,
de um castelo à orla do mar,
mas só porque, embriagado,
são de engodo as tuas asas
e de cobiça os teus passos,
que vão aquém das sandálias
e se arrastam rumo ao nada.
O poder é aquele pássaro
que te aguarda sob os galhos.
Tudo ele dá, perdulário,
De ti quer apenas a alma,
Por inteiro. Ou a retalho."
que te aguarda sob os galhos.
Tudo ele dá, perdulário,
De ti quer apenas a alma,
Por inteiro. Ou a retalho."
- Ivan Junqueira -
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Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934.
Sexto ocupante da Cadeira nº 37, eleito em 30 de março de 2000, na sucessão de João Cabral de Melo Neto e recebido em 7 de julho de 2000 pelo Acadêmico Eduardo Portella.
Como crítico literário e ensaísta, tem colaborado em todos os grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, bem como em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, entre elas Colóquio Letras, Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Em 1984 foi escolhido como a “Personalidade do Ano” pela UBE.
Assessor da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990, no ano seguinte transferiu-se para a Fundação Nacional de Arte (Funarte), onde foi editor da revista Piracema e chefe da Divisão de Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado do serviço público em 1997. Foi ainda editor adjunto e depois editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional (1993-2002).
Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, dinamarquês, russo e chinês
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Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934.
Sexto ocupante da Cadeira nº 37, eleito em 30 de março de 2000, na sucessão de João Cabral de Melo Neto e recebido em 7 de julho de 2000 pelo Acadêmico Eduardo Portella.
Como crítico literário e ensaísta, tem colaborado em todos os grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, bem como em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, entre elas Colóquio Letras, Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Em 1984 foi escolhido como a “Personalidade do Ano” pela UBE.
Assessor da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990, no ano seguinte transferiu-se para a Fundação Nacional de Arte (Funarte), onde foi editor da revista Piracema e chefe da Divisão de Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado do serviço público em 1997. Foi ainda editor adjunto e depois editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional (1993-2002).
Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, dinamarquês, russo e chinês
Silvana saudade daqui!
ResponderExcluirQue texto, Silvana. Perfeito!
ResponderExcluirUma bela poesia de protesto.
Gostei muito.
Bjs no coração!
Nilce
Silvana;
ResponderExcluirParabéns por aqui prestares esta bela homenagem a um Grande da nossa Literatura, como Ivan Junqueira.
Sua Obra Poética é das mais ricas da Lingua Portuguesa e certamente que perdurará nos tempos.
Bjs, Silvana.
Osvaldo
Poema oportuno e demonstrativo da hipocrisia dos nossos dias ou dos dias de todos os dias.......
ResponderExcluirComo tudo muda a personalidade daqueles que se julgam mais pelo dinheiro ou os prazeres........
Gosto muito de poemas assim, em que retratam com maestria um protesto.
ResponderExcluirBeijos
Bem que eu gostaria de protestar com versos. Parabéns pelo post.
ResponderExcluirBelo, inquietante!
ResponderExcluirSilvana, sua postagem vem a tempo e a propósito. Além de ser um elogio a tão brilhante poeta e acadêmico. Gostaria de lhe sugerir o blog de um professor de Literatura Comparada da UFOP: penso que você vai gostar de visitá-lo e, talvez, segui-lo. O link é:
ResponderExcluirwww.foureaux.wordpress.com
Beijos e bom fim de semana.
NÃO CONHEÇO MAS GOSTEI, BEIJOS
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