quarta-feira, 22 de setembro de 2010

VEM AMIGA.


Vem amiga; darte-ei a tua ceia
e a comida que acaso desejares,
e algum poema que ilumine os ares
menos que a luz malsã dessa candeia.

Aqui terás o peixe desses mares
e o mais gostoso mel de toda a aldeia.
De onde vens? De que cimos? De que altares?
Que luz angelical te agita a veia?

Como te chamas vida da outra vida,
espelho noutro espelho transmudado,
lume na minha luz anoitecida?

Serás o dia à noite do outro lado
de meu ser que nas trevas se apagou?
Ou serás qualquer lume que não sou?

- Jorge de Lima - 
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Jorge de Lima nasceu em 1893 em União, Alagoas, perto da Serra da Barriga, onde Zumbi fundou seu famoso quilombo. Aos dez anos, passou a escrever para um jornal de seu colégio, onde publicou os poemas que fazia desde os sete anos. 
Jorge de Lima estudou medicina na Bahia e no Rio de Janeiro. Ainda estudante, publicou seu primeiro livro, "XIV Alexandrinos". Exerceu as funções de médico e ocupou diversos cargos públicos no estado de Alagoas.  Nos anos 1920 publicou vários livros de poemas, entre os quais "O Mundo do Menino Impossível" e "Essa Negra Fulô", que é o título de seu poema mais conhecido. Em 1930 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde lecionou na Universidade do Brasil e na Universidade do Distrito Federal. Em 1935 foi eleito vereador, ocupando depois a presidência da Câmara dos Vereadores. 
Em 1935, Jorge de Lima converteu-se ao catolicismo e muitos de seus poemas passaram a refletir sua religiosidade. Publicou nesta época várias obras, entre elas "Tempo e Eternidade", "Invenção de Orfeu" e "Livro de Sonetos". Recebeu 
em 1940 o Grande Prêmio de Poesia, concedido pela Academia Brasileira de Letras. 
Certa vez, sendo entrevistado para um jornal, em 1952, Jorge de Lima se definiu com singeleza: "Tenho um metro e 68 de altura, 59 quilos e meio e uso óculos. Sou meio careca e meio surdo. Sou católico praticante e meu santo é São Jorge. Visto sempre cinza e acordo às quatro da manhã, com os galos e a aurora. (...) Minha leitura predileta é poesia.(...) Sou casado, tenho dois filhos e quatro netos. Gosto de pintar, esculpir e compor." 
Os versos de Jorge de Lima figuram entre os mais importantes do modernismo brasileiro. O autor publicou também romances, ensaios e peças de teatro. Tendo tido formação autodidata em artes plásticas, publicou também o álbum de fotomontagens "A Pintura em Pânico", com prefácio do poeta Murilo Mendes.

3 comentários:

  1. Lindo Sil.

    Você sempre nos lembrando de poetas queridos e seus belos poemas.
    Obrigada.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  2. A bela luminosidade de um soneto de candeia acesa.
    Lisboa, 23/09/2010

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  3. Adorei o texto e a mudança da casa, lina imagem! bjs

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